segunda-feira, 13 de maio de 2013

Feiras Francas de Maio


Na casinha branca, coberta pelo luar, cansada de trabalhar, a linda pastora acabara de se deitar. Precisava descansar, pois queria sair cedo, arranjar um bom lugar, nas Feiras Francas de Maio, para vender os queijos, que andou a preparar.
Esperando o sono chegar, pediu ao Criador as saídas e entradas lhe guardar, para tudo correr bem, vender sem regatear. Tinha pena das mulheres, que ao ver as horas passar, os feijões, os ovos a ficar, de braços estendidos quase a suplicar.
“Freguesa, leve por aquilo que quiser dar, quero ir p`ra camionete, o tempo está apertar”.
Manhã bem cedo, a alvorada a espreitar, bateu-lhe no rosto, ajudou-a a despertar. Depressa se arranjou partindo ravina abaixo, feliz ia trautear. À esquerda e à direita foi descendo devagar, para não escorregar, nas pedras que a chuva de Maio tinha andado arrastar, quando sentiu atrás de si qualquer coisa a farejar. Voltou-se, era o seu cão, aos pulos a saltitar.
Bem lhe fazia ameaças, para o rafeiro voltar, mas ele, teimoso, aparecia logo à frente, com o rabo abanar. Sem mais tempo para o escorraçar, ergueu o braço, à camionete que se estava aproximar. Colocou o cesto na mala, enquanto o safado, por entre as pernas do povo, arranjou a se enfiar. Para não chamar atenção ao cobrador que se estava aproximar, colocou o dedo à frente do nariz, dando sinal para ele se calar. Depressa chegaram ao fundo do vale à vila verdejante sede de concelho municipal. À entrada para os saudar, estava um arco com letras grandes a destacar. SEJAM BEM-VINDOS/ AS FEIRAS FRANCAS VÃO COMEÇAR. Enquanto a camionete ia andando devagar, olhava pela janela, pensativa a observar, a vida que à sua volta não parava de girar. Com o destino muito prestes a mudar, vitelas, cabras, ovelhas, cavalos, seguiam atrás do dono pelas bermas sem pestanejar. Mulheres, com cestas de cerejas, ou frescos legumes acabados de apanhar, chegavam bem-dispostas, mesmo vindo a transpirar.
Balões a esvoaçar, cabeçudos, trampolineiros, e o rancho folclórico acabado de chegar, davam alegria às Feiras Francas que muitos gostavam de visitar.
Mais abaixo, cestinhas e carroceis, perto das tendas com roupas, carteiras, colares e anéis para quem quisera comprar, um festival para os olhos de quem ia apreciar.
O cão escondido debaixo do banco, com medo de se mostrar, levantou-se encostou o focinho ao vidro, também queria espreitar.
Algumas horas depois de chegar, feliz com o dinheiro que acabara por ganhar, a pastora pensou em se divertir, começou a passear. Junto de um amigo que acabou por encontrar, comeu tremoços, castanhas acabadas de assar. Depois juntamente com o cão que ficou de lado a espreitar, na tenda do fotógrafo, atrás das figuras que estavam a representar, tiraram os três um retrato para mais tarde recordar.
Quando chegou a casa com alguns escudos para guardar, já a noite se estendia fria, sob a luz suave do luar.

 F.M.


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