segunda-feira, 22 de abril de 2013

Dia da Terra


Num domingo, em que o desportivo acabara de jogar, um homem bom, acabara por comprar, para aos filhos ofertar, uma cabrinha a um pastor, que andava a negociar. Mérinha, assim se veio a chamar, atada por uma corda, nem olhou mais para trás, sentindo-se feliz por conhecer um novo lar. Desse dia em diante para compensar o tratamento amistoso que a familia lhe estava a dispensar, oferecia do seu leite, para juntar ao café de quem quisesse tomar. Para se alimentar, gostava de ir ao monte, mas erva rasteira não gostava de rapar, procurava as pontas do mato para se deliciar. Se o guardador se distraísse a brincar, corria à procura duma horta, para se banquetear. Tiveram de lhe atar umas cordas p`ra ela não correr tanto e andar mais devagar. De pêlo no ar, procurava sítios baixos para se acomodar, sinal de humidade, a chuva estava a chegar. Nesse ir ao monte e voltar, corriam os dias devagar, até que um dia, sem nada a justificar, mérinha pouco comia, andava triste a cismar. Para a alegrar, combinaram leva-la à serra marinha, para ela acasalar, teria que ser bem cedo, para os carros não a assustar. Meu dito meu feito, mérinha foi passear, até à casa da pastora a ultima do lugar. A serra Marinha era longe, mais do que estavam a imaginar, depois de chegar a Requeixo, sob, que sob, sem parar. Com o sangue a latejar, o coração a bufar, comtemplando a serra duma beleza sem par, ao chegar ao alto sentaram-se a esperar. Depois de falar à  pastora, que não tardara em chegar e prometera no rebanho a integrar, despediu-se da cabrinha que ficou a namorar. Ao regressar, por entre várzeas e regatos a rapariga ia andando devagar, comendo morangos que nas bordas do caminho, por entre as folhitas verdes, a estavam a espreitar. Debaixo do sol que na cabeça se poisava a escaldar, viu hortelãos nas hortas a trabalhar, às portas das casas, muitas mulheres sentadas, fazendo trança da palha, os dedos vira que vira sem parar, a seu lado os homens estavam a estoquear. Curva à esquerda curva à direita, dentro dos muros coloridos estavam os laranjais, no cimo do monte a Senhora das Graças e muitas belezas mais. Já cansada de caminhar, espreitou o horizonte, viu que o sol estava a baixar, começou andar depressa, não se podia atrasar, queria chegar a casa antes da noite chegar.

 Esta história, inspirada nas famílias que eram na sua grande maioria de baixos rendimentos e viviam no concelho de Fafe em meadas do século XX e se valiam do artesanato e pastorícia como complemento ao rendimento familiar,
 é dedicada a todos os(as)fafenses que vivem no concelho de Fafe e ainda se dedicam à tradição associada à cultura do centeio mais propriamente ligadas ao artesanato derivado da palha ferrã.

M. Filomena Magalhães

Sem comentários:

Enviar um comentário